segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Deficiência de vitamina D

 Após o enriquecimento dos alimentos com vitamina D, houve a impressão de que o raquitismo havia sido controlado e os profissionais de saúde acreditaram que o principal problema de saúde resultante da deficiência de vitamina D havia sido resolvido. Entretanto, o raquitismo pode ser considerado como a ponta do iceberg resultante da deficiência desta vitamina, já que a deficiência de vitamina D permanece comum em crianças e adultos. Durante a vida intra-uterina e na infância, esta situação pode levar ao retardo no crescimento e deformidades esqueléticas, além de aumentar o risco de fratura de quadril ao longo da vida. Em adultos, tal deficiência pode precipitar ou exacerbar a osteopenia e osteoporose, levar à osteomalácia e fraqueza muscular, além de aumentar o risco de fraturas.


A definição mais utilizada para deficiência de vitamina D é um nível de 25- hidroxivitamina D inferior a 20ng/ml (50nmol/L). Quando este valor encontra-se entre 21-29 ng/ml, pode-se considerar que há insuficiência relativa de vitamina D e valores acima de 30 ng/ml são considerados suficientes. A intoxicação de vitamina D é observada quando seus níveis encontram-se acima de 150 mg/ml.

A partir de tais definições, estima-se que 1 bilhão de pessoas apresentem deficiência de vitamina D. As populações de mais alto risco são os idosos e mulheres após a menopausa. Entretanto, crianças e adultos jovens também podem desenvolver tal deficiência.

I – Fontes e metabolismo da vitamina D

Os seres humanos obtêm vitamina D a partir da exposição aos raios solares, da comida ingerida e de suplementos alimentares.

II – Osteoporose e fratura óssea

Aproximadamente 33% das mulheres entre 60-70 anos e 66% das mulheres acima de 80 anos sofrem de osteoporose. Estima-se que 47% das mulheres e 22% dos homens de 50 anos apresentarão um episódio de fratura osteoporótica no restante de sua vida. Quando utilizada a dose de 700-800 UI de vitamina D3, houve redução de 26% no risco relativo de fratura de quadril e 23% no risco relativo de fraturas não-vertebrais.

III – Força muscular e quedas

A deficiência de vitamina D pode causar fraqueza muscular. Os músculos esqueléticos possuem receptores para a vitamina D e necessitam dela para seu funcionamento ótimo.Estudo recente demonstrou que a velocidade de performance e a força muscular apresentaram grande melhora quando os níveis de 25-hidroxivitamina D aumentaram de 4 para 16 ng/ml e continuaram a melhorar a medida que tal nível subiu para 40mg/ml.
Uma meta-análise de 5 ensaios clínicos demonstrou que o aumento na ingesta de vitamina D reduziu o risco de quedas em 22% quando comparado com reposição de cálcio ou placebo.

IV – Efeitos não-esqueléticos da vitamina D

Órgãos como cérebro, próstata, mama e cólon, assim como células do sistema imune possuem receptor para vitamina D e respondem à 1,25-dihidroxivitamina D, a forma ativa da vitamina D.
Direta ou indiretamente, a 1,25-dihidroxivitamina D controla mais de 200 genes, incluindo aqueles responsáveis pela regulação da proliferação celular, diferenciação, apoptose e angiogênese. Além disso, ela reduz a proliferação celular tanto de células normais como de células cancerígenas e induz sua diferenciação terminal.

Por fim, a 1,25-dihidroxivitamina D é um potente imunomodulador. Foi demonstrado que quando seus níveis caem abaixo de 20ng/ml, os monócitos e macrófagos ficam incapazes de iniciar a resposta imune inata, fato que pode explicar o motivo pelo qual indivíduos negros americanos, constantemente deficientes de vitamina D, são mais suscetíveis a tuberculose do que os brancos, além de tenderem a evoluir com uma forma mais agressiva da doença.

V – Deficiência de vitamina D e sua relação com diversas patologias

• Câncer → Estudos demonstraram que níveis baixos de vitamina D estão associados a um risco 30-50% maior de câncer de cólon, próstata e mama, além de uma maior mortalidade associada a tais patologias. 

• Doenças auto-imunes, osteoartrite e diabetes → Foi demonstrado que o aumento na ingesta de 25-hidroxivitamina D reduz o risco de desenvolver esclerose múltipla, artrite reumatóide e osteoartrite. Diversos estudos também sugeriram que a suplementação de vitamina D em crianças reduziu o risco de diabetes tipo 1. 

• Esquizofrenia e depressão → A deficiência de vitamina D tem sido relacionada ao aumento na incidência de esquizofrenia e depressão.

• Capacidade pulmonar → homens e mulheres com níveis de 25-hidroxivitamina D acima de 35 ng/ml apresentaram aumento de 176ml no volume expiratório forçado em 1 segundo.

VI – Causas de deficiência de vitamina D

As causas mais comuns para deficiência de vitamina D são:
 • Redução da síntese cutânea

 • Menor biodisponibilidade
  o  Mal absorção (fibrose cística, doença celíaca, doença de Whipple, doença de Crohn, medicações que reduzem a absorção do colesterol)
  o  Obesidade 
  
  Catabolismo aumentado
  o  Uso de medicações como anticonvulsivantes, glicocorticoides, terapia anti- retroviral e imunosupressores.

  • Redução na síntese de 25-hidroxivitamina D 
  o  Falênciahepática
  
  •   Perda urinária aumentada de 25-hidroxivitamina D 
  o  Síndromenefrótica
  
  •   Redução na síntese de 1,25-dihidroxivitamina D 
  o  Doençarenalcrônica
  
  •   Doenças hereditárias – raquitismo 
  
  •   Doenças adquiridas
  o  Osteomaláciatumor-induzida o Hiperparatireoidismoprimário 
  o  Doençasgranulomatosas,sarcoidose,tuberculoseealgunstiposdelinfoma 
  o   Hipertireoidismo.

VII – Estratégias terapêuticas

A recomendação da ingesta diária de vitamina D é de 200UI para crianças e adultos até 50 anos de idade, 400 UI para adultos entre 51-70 anos e 600 UI para adultos acima de 71 anos.

Crianças com deficiência de vitamina D devem ser agressivamente tratadas a fim de evitar o raquitismo. Como a vitamina D2 é 30% tão efetiva quanto a vitamina D3 em manter os níveis adequados de 25-hidroxivitamina D, até 3 vezes mais de vitamina D2 podem ser necessários para manter tais níveis suficientes. Uma forma custo-efetiva de corrigir a deficiência de vitamina D e manter níveis adequados é oferecer cápsulas contendo 50,000 UI de vitamina D uma vez por semana durante 8 semanas, seguido de 50,000 UI de vitamina D2 a
cada 2-4 semanas. Alternativamente, tanto 1.000 UI/dia de vitamina D3 quanto 3.000 UI/dia de vitamina D2 são suficientes. Por fim, já foi provado que a estratégia de oferecer 100.000 UI de vitamina D3 uma vez a cada 3 meses foi eficaz em manter os níveis de 25-hidroxivitamina D acima de 20 ng/ml e reduzir o risco de fraturas.

Em pacientes com algum grau de disfunção renal, os níveis de 25-hidroxivitamina D devem ser medidos anualmente e mantidos, obrigatoriamente, acima de 30 ng/ml. Já aqueles com disfunção hepática moderada a grave ou síndromes de disabsorção, assim como pacientes em uso crônico de anticonvulsivantes ou glicocorticoides também necessitam de doses maiores de vitamina D.

VIII – Conclusão

O subdiagnóstico da deficiência de vitamina D não é uma condição rara e a 25- hidroxivitamina D é o termômetro do status de vitamina D. O nível sérico de 25- hidroxivitamina D é não só preditor da saúde óssea, mas também um de risco para câncer e outras doenças crônicas.

As evidências recentes sugerem que as recomendações de ingesta atual são inadequadas e esta deve aumentar para, pelo menos, 800 UI de vitamina D3 ao dia. Ao menos que o indivíduo se alimente de óleo de peixe frequentemente, é muito difícil obter tanta vitamina D3 em uma dieta regular. Exposição excessiva ao sol, especialmente os raios solares que provoquem queimaduras, podem aumentar o risco de câncer de pele. Por isso, exposição solar sensível e o uso de suplementos são necessários para suprir o organismo das necessidades de vitamina D.

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